segunda-feira, 13 de novembro de 2023

" Um dia nós vamos morrer, mas todos os outros não. "

Mario Sérgio Cortella






Esses dias li um texto da escritora Cris Guerra em que dizia “Não há um verbo que não doa durante o luto”.  Em seu artigo ela abordava a questão do luto de seu marido, quem faleceu.


O que acontece é que me identifiquei com a frase. Mesmo não tendo perdido ninguém para a morte.  Pelo contrário, perdi para a vida. E ainda sim a sensação da dor é desgastante. 


Enlutar-se. Ver em preto e branco. Mas ainda é preciso levantar, trabalhar, comer, passear, viver. Tudo isso acontecendo sem uma única pigmentação, a não ser pelo acinzentado permanente.


Esse tipo de separação, sem a morte, nos dá a sensação de incapacidade perante nós mesmos. De não termos conseguido nos relacionar com alguém para quem temos amor, amizade, respeito. E nesse looping de frustração e tristeza, parece que qualquer lugar que vamos, nos sentimos desconfortáveis. Não como se estivéssemos fazendo algo errado e sim como se as coisas não tivessem sentido.   


E até que tudo isso passe, é preciso disposição. É um processo que, na maioria do tempo, chega a ser um incômodo para os outros. Ninguém quer falar sobre luto, seja ele qual for. “Nossa, ainda com isso?”  “Mas já faz tanto tempo, né?”.  Atravessar esse tempo de cura pode ser solitário.


Mas acabamos construindo uma resiliência que nem nós sabíamos que seriamos capazes de ter.  É necessário disciplina porque não é um processo linear. Terão dias bons e ruins, e se não nos atentarmos, os dias ruins virarão rotina. Temos que fazer um investimento afetivo em nós mesmos para garantir nossa saúde emocional.


Transformação. Aos poucos vamos entendendo, aceitando e organizando os sentimentos em seus devidos lugares dentro de nós. Permitindo que a dor passe por nós e quem sabe fique ainda um pouco dela na gente, mas tendo a convicção de que o amor ainda vive e vence.    


Ouvindo: Carta de Amor - Maria Bethânia  


C - ya 


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