sexta-feira, 12 de novembro de 2021

"Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu é de carne e sangra todo dia."

José Saramago  











Quando comecei a terapia eu falava muito. Achava que passando todas as informações possíveis o quanto antes teria um retorno rápido. 


Mas as sessões foram acontecendo e ao invés de respostas, começaram a vir perguntas. Não era sobre a terapia me dar respostas, era sobre me ensinar a quê questionar. Ela não me daria o peixe, ela faria mais do que me ensinar a pescar. Me ensinaria a mergulhar. 


Mergulhar com meu controle, que a principio eu achava ser uma forma de amor, mas tinha mais a ver como uma defesa contra a perda do que qualquer outra coisa. Certas perdas são necessárias e controle não é garantia de nada, só certeza de aflição. Mergulhei também com a Raiva, que boa parte do tempo era minha criança frustrada e castrada. E então a Culpa. Quantas vezes preferi a culpa a não aceitação de que eu só não estava no controle?


A terapia me ajudou a compreender as inseguranças na minha família, os autoritarismos no convívio profissional, as instabilidades no meio social. Mais que isso, eu aceitei que tudo isso está dentro de mim. E que o único caminho para lidar com todas essas situações é o Amor. O Amor concreto, real. Do dia a dia. A terapia me acolheu ao mesmo tempo que me desafiou. É natural ter dias bons e ruins quando se está atrás de sua essência. E que Humana que sou, quando determinadas escolhas não dão certo, eu apenas olhar com a serenidade e sabedoria de que não é justo eu me julgar sobre isso como se eu não tivesse me esforçado o bastante para dar certo. 


E que é normal ter tantos sentimentos. É necessário Sentir. Mas não um sentir com culpa e sim um sentir com Aceitação e Perdão. A leveza do sentimento, não a angústia do julgamento. A terapia me deu ferramentas para derrubar muros, construir pontes, desemperrar portas e escancarar janelas. Eu aprendi a me respeitar, no meu ritmo. A terapia me trouxe a leveza mais consciente, não a leveza inconsequente. Com a terapia, eu sou mais grata. A gratidão concreta, não a que é vendida na timeline. É saber que eu estou em um processo contínuo. Que nem todos os monstros são maus, que haverão monstros para enfrentar, mas também monstros que me darão a mão e me ajudarão. 


E que sou o resultado de tudo isso. Eu sou.



Ouvindo: i Say a Little Prayer - Aretha Franklin 

C - ya

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